segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Lolita (Vladimir Nabokov)


Mais famoso livro de um dos maiores escritores do nosso tempo, "Lolita" também é uma das maiores obras literárias do século XX. Livro difícil de ser digerido, mesmo após mais de cinquenta anos de sua publicação, faz com que muitos leitores não passem das primeiras páginas. Outros, com muito esforço, chegam ao final apenas para se sentirem enojados. No entanto, há quem chegue ao final compreendendo os sentimentos do ninfolepto Humbert Humbert.



A história escrita em "Lolita" teve início na Rússia, em 1940, quando Nabokov escreveu um pequeno conto onde um homem se apaixonava por uma criança e, não correspondido, acabava por cometer suicídio. Mais de dez anos após escrever tal conto, o autor, já morando nos Estados Unidos, dá início à sua mais famosa obra, escrita em língua inglesa. 
Vladimir Nabokov
"Lolita" tem como protagonista (e narrador) Humbert Humbert, francês e professor de poesia. H. H. está preso e escreve durante cinquenta e seis dias sobre a sua vida. Inicia a história falando brevemente sobre a sua infância com o pai e depois descreve sua relação com Annabel Leigh, quando os dois ainda eram pré-adolescentes – clara homenagem ao poema Annabel Lee, de Edgar Allan Poe. A Annabel de Nabokov, namorada de Humbert Humbert, morre de sifo logo após as férias em que dois se apaixonaram. Daí, o protagonista atribui a esse fato, a esse amor interrompido, o seu interesse pelas ninfetas. Vale lembrar, como o protagonista o faz durante boa parte do livro, que ele não sente atração por qualquer criança, e, sim, pelas ninfetas.

Humbert cresce, casa-se com uma mulher a qual não ama, fica viúvo, mas sempre manifesta seu interesse pelas ninfetas, sempre citando seu significado e exemplos no campo filosófico, tentando dar ao leitor uma noção sobre seus sentimentos.

Finalmente, quando possui por volta de 40 anos, o professor visita uma cidadezinha nos Estados Unidos e fica hospedado na casa de uma mulher que tem um quarto disponível. Além do quarto, Charlotte Haze possui uma filha de 12 anos chamada Dolores Hazel – ou Lolita – e H. H. vê na garota o fantasma de seu antigo amor interrompido: Annabel.
Cena de "Lolita" (1997), filme dirigido por Adrian Lyne
A partir desse ponto, não cabe mais contar a história aqui, mas vale ressaltar alguns pontos sobre esta obra, a partir do que percebi com a leitura.

Vladimir Nabokov merece muitos méritos por ter escrito "Lolita". Um livro difícil de ser ingerido, como já mencionei, e ainda mais difícil de ser publicado. O que, para nossa sorte, foi feito. Um certo editor que recebeu um original de "Lolita" certa vez afirmou: "Se eu publicar isso, nós dois seremos presos". 

Sim, "Lolita" é pesado, possui uma temática difícil de ser falada que é a pedofilia. Contudo, o livro não dispõe de linguagem grosseira ou de teor pornográfico. Humbert Humbert narra a história de uma maneira poética, mas sua retórica se torna repulsiva a certas alturas, mesmo repetindo incessantemente que ama Lolita.

Nesse livro, temos um bom exemplo do que é um narrador não confiável. Esse termo se refere a um narrador que tem sua credibilidade comprometida. O recurso é usado para enganar o leitor e tornar a história mais misteriosa. No caso de "Lolita", H. H. faz com que todos os personagens ao seu redor se tornem questionáveis. Um exemplo disso é o fato de todas as mulheres se sentem atraídas por ele. O leitor não sabe se isso realmente acontece ou se os fatos são distorcidos pelo narrador, principalmente no caso de Lolita, onde o leitor não sabe mais o que separar o que indubitável do exagero.

Na minha opinião, o ponto forte da obra está mesmo na narrativa de Humbert Humbert. Um homem cheio de conflitos que faz de tudo para parecer menos monstro em alguns momentos e, em seguida, faz questão de se mostrar tão desprezível como realmente é.

Como nem tudo é perfeito, "Lolita" se torna em boa parte da história em que nada parece acontecer. Shows de descrições sem que um conflito que mova a história e que dê um sentido a ela devem fazer com que muitos leitores desistam do livro nessa fase mais cansativa. Acredito que esse seja um motivo mais plausível para interromper a leitura do que o "nojo" demonstrado por alguns leitores. Ou, talvez – por mais duro que seja de admitir –, alguns leitores se decepcionem ao ver que as cenas eróticas fiquem presas ao início do livro, fazendo-os, assim, caírem na monotonia. 

Para mim, valeu muito a pena ler "Lolita". Não é uma obra que eu indicaria para todos, pois vai depender bastante de cada pessoa, seus gostos e o quão sua mente está aberta a compreender o real significado desta obra dúbia, pelêmica e conflitante.

Boa leitura e até a próxima!





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