terça-feira, 11 de março de 2014

Histórias de Cronópios e de Famas (Julio Cortázar)


O argentino Julio Florencio Cortázar é um dos nomes mais lembrados quando nos referimos à literatura latino americana. Entre seus principais trabalhos estão "O Jogo da Amarelinha" e "Histórias de Cronópios e de Famas". Nascido na embaixada Argentina na Bélgica, veio para a América do Sul com quatro anos. Criado pela mãe, uma tia e uma avó, foi uma criança solitária e triste. Certa vez, comentou: "Passei minha infância em uma bruma de duendes, de elfos, com um sentido de tempo e espaço diferentes dos outros". Além disso, possuía uma saúde frágil e ficava em casa, de cama, lendo livros. Como sempre escrevemos com base nas nossas experiências de vida, as histórias de Cortázar, geralmente, falam de casos de família e seres fantásticos.

"Histórias de Cronópios e de Famas", clássico da literatura argentina, fala exatamente sobre esses assuntos. São narrativas curtas, envolvendo histórias de família com o surrealismo, tão presente em seu mundo, e é um louvor à criatividade e à imaginação.


O livro é dividido em quatro partes. A primeira, "Manual de instruções", transforma ações cotidianas, como subir uma escada ou dar corda em um relógio, em boas histórias, divertidas e literariamente fascinantes. Na segunda parte, "Estranhas ocupações", o autor procura mostrar de forma divertida as manias de uma tia, atividades de crianças, comportamento em velórios e outras coisas estranhas. Já em "Matéria plástica",  terceira parte, Cortázar faz referências aos absurdo do mundo em que vivemos.

Em "Histórias de cronópios e de famas", sessão que dá nome ao livro, o autor fala sobre todos nós, humanos, divididos em três espécies: Famas, Cronópios e Esperanças. Os Famas, são pessoas práticas e preocupadas com o mundo. Antes de viajar, checam os hotéis, a qualidade de seus lençóis e o preço da hospedagem. Os Cronópios, sempre perdendo as chaves ou sendo atropelados, são os mais distraídos. Numa viagem, encontram os hotéis lotados e os trens já partiram. Já as Esperanças não viajam, são sedentárias e, para vê-las, é preciso ir até elas, pois elas não veem até nós.

"Histórias de Cronópios e de Famas" é um exercício da mente e da imaginação. Você pode amá-lo ou odiá-lo pois, em alguns momentos, não é fácil de engolir se o leitor não possuir a capacidade de libertar a mente e viajar pelo mundo fantástico criado por Júlio Cortazar. No entanto, indico a todos que dão valor à criatividade e à ousadia e pretendem embarcar em um novo universo.

sábado, 8 de março de 2014

Coringa (Brian Azzarello e Lee Bermejo)


Uma das boas surpresas que me apareceram nessas últimas semanas foi a graphic novel "Coringa", escrita por Brian Azzarello e ilustrada por Lee Bermejo. Antes de falar sobre essa HQ, vamos relembrar alguns trabalhos desses dois.

"Coringa", lançada no Brasil pela editora Panini

Brian Azzarello, roteirista de quadrinhos norte americano, é responsável pela série "100 Balas", publicada pela Vertigo, selo da DC Comics, e, em 2011, também assumiu os roteiros da série Mulher-Maravilha e a graphic novel "Superman - Pelo amanhã". Já Lee Bermejo, também dos Estados Unidos, é um ilustrador de quadrinhos que ficou mais conhecido pelo seu trabalho com a WildStorm, editora de história em quadrinhos norte americana pertencente a Jim Lee, onde desenhou edições especiais de "Gen" e "DeathBlow" (em parceria com Brian Azzarello). Hoje, Bermejo trabalha na criação das capas de "Checkmate" e "Daredevil".

   

  

Trabalhando juntos, a dupla também é responsável pelos títulos "Luthor: Homem de Aço" e, claro, "Coringa", nosso assunto do momento.

Lançada pela DC Comics em 2008, tem como protagonista, obviamente, Coringa, o maior antagonista do homem morcego e se passa em um universo alternativo, fora da cronologia oficial da editora.

A história inicia-se com o Coringa saindo do Asilo Arkham, onde Johnny Frost, personagem criado especialmente para esta trama, está lhe esperando com um carro no lado de fora. Frost é um ladrão e consegue conquistar a "simpatia" do palhaço do crime e é contratado por ele para ser seu motorista. De alguma forma, o Coringa conseguiu sair do Asilo Arkham, mas não se sabe como. Eis a grande dúvida entre todos os personagens da história e a dos leitores, pois o mistério não é desvendado e fica a sensação de que não há explicação para isso. No entanto, podemos relevar.

   

Ao chegar à cidade, o Coringa vê que seus negócios foram tomados e divididos entre seus capangas. A partir daí, Coringa vai em busca de recuperar o controle do crime organizado da cidade de Gotham, encontrando outros vilões do universo de Batman, como Pinguim, Charada, Duas-Caras e outros. A personagem Arlequina também dá as caras nessa graphic novel, apesar de sua participação não ser tão longa.



Os autores de "Coringa" certamente beberam de várias fontes para criar esta história. Além de o palhaço desta graphic novel lembrar muito o Coringa de Nolan, toda a trama de um ar de filmes de máfia, como os de Martin Scorsese. O Coringa de Azzarello e Bermejo tem a mesma loucura e a mesma paixão pelo Caos. O personagem foi desenhado de forma brilhante, principalmente no início da história, onde podemos ver ber os detalhes em seu rosto e o sorriso assustador, dificilmente antes demonstrado como nessa HQ. Johnny Frost, narrador da história, é um dos pontos fortes da história. Um bandido que almeja ser "alguém" e vê no Coringa uma chance de conseguir isto, acaba se envolvendo na trama e na loucura do vilão, a ponto de ir aos poucos se tornando a própria imagem de loucura do Coringa.

Vale também dizer que a narrativa de Azzarello é magnífica. A história é tensa e enérgica do começo ao fim, o que faz com o leitor leia de uma sentada só, mesmo sendo uma história suja, pessimista, onde nada de bonito vai acontecer.

O final da história não é tão fácil de engolir ou entender. Acredito que cada leitor terá a sua interpretação sobre o que ali acontece. O que, na minha opinião, é uma qualidade. O autor dá a deixa para que o leitor possa pensar um pouco mais além do que está no papel para chegar à sua conclusão.